escoltado por abelhas africanas
o ano se despede
das intenções melíferas ficam:
- uma pedra no caminho
- um poema inacabado
- um barco furado
- um presente no escuro
e todos os sonhos de navegantes à deriva
pergunto aos jornais
sobre esperança
respondem-me com serena insensibilidade
a pedra no telhado de vidro,
a revolta das vísceras,
o enjôo dos dias,
a imparcialidade do relógio
em bocas de lixo e beijos na boca
mas insisto em ver
com os olhos dos sonhos
haverá novas horas
de um mesmo relógio
que à maneira dos esperançados
beijará o primeiro segundo
soletrando estrelas de um dia primeiro
e apesar das incontáveis picadas
da mordaz e histriônica colméia
reinventaremos o mel
Euza Noronha