Passam as horas e eu passo

Passam as horas e eu passo.
Não as reconheço nem nelas me reconheço
nesta melancolia cruel das formas,
com suas cores violentas, violetas,
as imagens que batem na memória
destes olhos mágicos de luz.

Passo por aqui em silêncio
restituído de lábios virgens, de viagens
que nunca terei feito, que apenas imagino
e que se abrem à nudez das minhas mãos

como a um baú velho de séculos
vazio de murmúrios que já teve.

Vieira Calado