Vestígios
... E o meu corpo
sabe ao teu,
ainda que
incógnito em mim.
Luas perdidas,
escancarados sóis,
estrelas caídas,
suores e vigílias.
Meu corpo sabe
das dobras do dia,
das sobras de sonhos,
das curvas da noite
em que te escondias.
Das frestas
do teu olhar insone,
tuas senhas e segredos,
teus vestígios
no meu dia.
Carícias sussurradas,
palavras proibidas.
Eu me adivinho
entre sustos,
no sobressalto das horas
em que me despertenço
e passo a ser
somente tua.
Um caminho sem volta,
nessa imensidade
de caminhar
sem rumo.
Míriam Monteiro : "Nasci numa cidade do interior de São Paulo, Amparo, onde cresci, criei raízes e permaneço até hoje. Terapeuta Ocupacional, atuo na área de Saúde Mental, onde convivo, cotidianamente, com os Deuses, os Demônios, os Sábios e os Aprendizes, que residem no íntimo daqueles a quem chamamos "insanos" por terem ousado viver "(d)o outro lado".
Desde cedo, encantei-me com a magia das Palavras, mas só me entreguei ao encanto delas há pouco tempo. Então, a Poesia enredou-me em suas tramas, mostrou-me a sua face nem sempre bela. Ao mesmo tempo, ela me desafiava a mostrar todas as minhas faces, a sangrar os sentimentos todos. E, quando sangro, é ela quem me toma pelas mãos e me acolhe, conforta, para, em seguida, postar-se, novamente, em duelo.
Empunhando como arma, a palavra, a Poesia me rasga, me expõe, me desnuda, extraindo o que há de mais belo, de mais doloroso e mais suave, em mim.
Ainda não pude decifrar-lhe todas as faces, tampouco pude conhecê-la por inteiro. Mas numa mágica que não decifro, à medida em que tento traduzi-la, é a mim que descubro, são as minhas faces que se mostram todas.
Nada tenho publicado, ainda. Um pouco mais de minhas letras, pode ser visto no Blog Meu Porto, que foi o início desse meu quase-vício de rabiscar e transbordar sentimentos".