Perseguição

meus versos são sombras
que me seguem passo a passo
me espreitam a face
me auscultam o sangue
me examinam a pele,
tropeço nos meus versos
que se interpõem nos ladrilhos
como brinquedos largados,
esbarro neles nos vãos dos guardados
sob a poeira que limpo,
misturam-se aos meus afazeres
sopram-me tolas cantigas,
jamais se aquietam
segurando-me pelos ombros
no primeiro canto de galo
que desperta minha manhã.

Dora Vilela