9

Eu ando por aí
Com os órgãos na gaveta
À procura de um lugar
Para me esquecer do que não sou
Cansado como toda e qualquer palavra fria
Que descreve movimentos inertes
Debruçado no precipício
Enfraquecido de incertezas.

Eu ando por aí
Com os órgãos na gaveta
Que sucumbem na manhã seguinte
Como um prisioneiro enforcado
Na praça na qual ninguém
Esteja a desviar o curso dos rios
Para assim melhor entender
O que não é dito pelas águas.

João Ayres