João Ayres - em dez Poemas

Poema 1

Há um jeito de entortar
Com a alma estas coisas que digo
Este jeito vem de dentro
Sem lugar onde as coisas se fazem
Como o escuro do escuro que lateja no além
Nas mornas palavras que vão abrindo o que resta desta hora
Singrando o oceano do desterro em compasso suicida
Uma a uma como um rastro que se perde na memória
Estilhaçada à noite por um tiro de canhão.

João Ayres é poeta, contista e ensaísta. É também compositor de samba de raiz.
Conhecido por sua paixão pela escrita, revela uma profunda inspiração pelos sentimentos humanos. Consegue sugar a dor, o ódio, a sensação de derrota, o sofrimento da perda, a desvalorização do próximo, a solidão e o medo da morte, do fundo da alma de seres que se revelam não como personagens secundários, mas como entidades humanas desconhecidas por todos mas reconhecidas por ele.
As muitas máscaras caem por terra quando lemos João Ayres.
A angústia cria corpo e forma chegando a angustiar o leitor mais desprevenido. Ler João Ayres é um exercício, um verdadeiro laboratório sobre a existência; um momento de reflexão com náuseas, dores, desânimo ou alívio. Dissecar o ser e encontrar a alma parece sempre o seu objetivo.
Assim é João Ayres: poeta, contista, ensaísta e também compositor...

por Isaura Ladeira