Caudalosa

E, quando
tua ânsia
me toca,
viro água.
E, porque
és terra,
invado teus leitos,
percorro
os segredos
das tuas entranhas,
inundo-te
com a minha fluidez.
E, porque
sou água,
misturo-me
ao teu sal,
enrosco-me
nos teus seixos,
farto-me
dos teus humores.
E, porque
me queres água,
entorno
os teus sentidos,
inundo teus veios,
faço brotar
tuas vertentes.
E faço-me eterna,
ampla,
plena,
largo e caudaloso rio
para abarcar-te
inteiro.

Míriam Monteiro