Inúteis versos

Escrevo
como o náufrago,
que lança ao mar
um pedido de socorro
e não espera resposta
ou aceno.
Escrevo como
quem ora
a um deus
em que não crê,
como o cego
que adivinha cores,
sem nunca as ter.
Escrevo
como quem
tece horas
na urdidura
de uma noite
sem sonhos
ou estrelas.
Escrevo
como quem chora.
Escrevo ao vento...
Inútil
esse meu
rasgar sentimentos.
Nenhuma palavra
que me resgate
ou cure.
Ou salve.

Míriam Monteiro